Não vejo futuro em nossa relação e não gosto de problemas, prefiro evitá-los.
Ao ler aquelas palavras ditas pelo objeto do meu afeto, pensei: Estou gostando de um vidente meio esquizofrênico, porque ao mesmo tempo que ele conseguia predizer que eu seria um problema, ele não conseguia prever o futuro que estava a nossa frente.
E com essas palavras fatalistas ditas em um inóspito chat da internet, ele me deixou.
Assim, de pronto, se tornou offline no meu chat e na minha vida, nem tive a chance de tentar entender a qual futuro ele estava se referindo e quais os problemas que ele via em mim.
Me via atordoada, lendo e relendo aquilo, mas como é isso? Fale a verdade, você deixou de gostar de mim? Não, ele disse. Você conheceu outra pessoa que você consiga prever um futuro? Não, eu nunca faria isso com você, ele continuou afirmando. Então que raios de futuro é esse? Qual a importância disso agora, se esse tal de futuro se constrói na vivência do dia-a-dia juntos, por que você não quer construí-los junto comigo? O futuro é importante pra mim, foram suas últimas palavras antes de me condenar ao cinza do offline eterno.
Ainda numa última tentativa desesperada de entender tudo aquilo, mandei um sms pedindo sua ajuda para digerir aquelas palavras mas não obtive resposta. O silêncio era palpável. Acho que ali ele já estava me demonstrando o não futuro da nossa relação, daí eu entendi, não é que ele não via um futuro, ele não queria um futuro entre nós. Então me calei também.
E fui me calando em todas as nossas relações sociais, as reais e as virtuais. Tal pessoa não faz mais parte da sua lista de amigos, parecia que gritava para mim o Mark Zuckerberg em pessoa. Só não consegui apagar seu número de telefone do meu celular, porque de nada adiantaria, sabia decorado e ainda não inventaram uma máquina de deletar lembranças.
Já passei por outros términos, queridos por mim e por outros, já fiquei triste, já fiz ficarem tristes, mas nunca foram confusos, sempre pensei que términos fossem claros, mesmo que se usem àquelas máximas do tipo, o problema não é você, sou eu, a gente sempre sabe no fundo os reais motivos e isso de certa forma é menos angustiante. Mas esse foi totalmente novo para mim.O mais confuso disso tudo, se é que é possível, é que nossa relação foi a mais clara que eu já tive, sem joguinhos, sem grandes complicações, eu era feliz, eu achava que ele era feliz ao meu lado. Nem no início precisei brincar de "não vou te ligar agora, vou deixar você sentir um pouco minha falta", enfim, essas coisas idiotas que fazemos quando estamos tentando conquistar uma pessoa. Quando ele queria me ver, ele procurava, quando eu o queria, chamava e ele vinha de pronto (ao menos é claro que estivesse ocupado), a gente saia, ia a festas, conheci seus amigos e gostei deles, aah droga, me dei conta agora que até dos amigos eu me separei também. É como se ele tivesse decretado que o não futuro se estende aos seus amigos também. Pena..
Não éramos aqueles casais que não se desgrudam. Detesto isso. As vezes ele saia só com seus amigos e eu com os meus, só pedia que me avisasse, e depois que acordamos isso um com o outro, não tinha problemas. Sim, é claro, a insegurança sempre bate, mas eu estava aprendendo a confiar nele, e minha experiência me dizia que de nada adiantava aprisioná-lo, então ele ia e sempre voltava para mim.
Desde o início eu já sabia que nossa relação seria de indas e vindas, ele não é brasileiro, de tempos e tempos ele teria que visitar sua família, o que me fez concordar com essa situação e querer ficar ao lado dele mesmo assim foi porque todos os dias que ele passou ao meu lado eu percebia que valia a pena. A saudade do tempo que ficaríamos distantes estava sendo paga e muito bem paga na prestação dos dias que passávamos juntos. Nunca fiquei chateada com ele, ou melhor, um única vez, que não durou um dia inteiro, e logo conversamos e acertamos tudo. Embora eu seja uma pessoa desconfiada e insegura, devido as marcas de alguns relacionamentos destrutivos passados que tive, ele nunca havia me deixado sentir um mínimo de desconfiança dele, não sei se fui enganada ou traída alguma vez, mas se fui também não importa agora, porque isso nunca me doeu, e mesmo quando ele estava fora não me permiti ficar procurando erros dele. Não fucei sua vida, não perguntava de forma invasiva todos os detalhes de festas que ele foi com os amigos, sua vida em outro país não me dizia respeito, ou melhor, sua vida em seu país eu tinha que respeitar, pois não acredito em relacionamentos que aprisionam o outro, como já disse aqui, relacionamento para mim não é pertencer um ao outro de forma egoísta, mas sim de complementariedade. Até porque somos água e vinho, ele esfria eu aqueço, ele acalma, mata a sede, eu deixo zonza, carente por mais, ele é terra eu sou fogo! (essa frase ficou parecendo letra de música cafona!rsrs)
Por três situações ele disse que me amava. Não disse para mim especificamente, ele disse muito mais pra ele, como algo que escorre pelos lábios e que não consegue segurar. Mesmo ele sendo tão controlado, como ele mesmo diz: tenho que pensar como engenheiro, por três vezes ele não conseguiu se controlar. Mas de todas essas vezes eu fingi não ouvir ou não entender, por respeito a ele. Sabia ou não tinha certeza de que ele queria realmente me falar isso, me parecia muito mais uma constatação para si mesmo, do que algo que ele tinha a certeza de querer dizer para mim. E hoje acho que foi o melhor que eu fiz, em respeito à ele.
Da primeira vez foi em um momento que ele estava com seus amigos, já deviam estar bem bebados e ele me ligou dizendo isso. Fingi não entender, usei a desculpa da barreira da lingua, ele fala meio enrolado as vezes e no dia seguinte não tocamos mais no assunto. A segunda vez veio em forma de sigla, TQM, escrita numa despedida de mensagem, que ao perguntar o que significava, ele me falou pra procurar no google, e eu vi lá: Te quiero mucho. Continuei fingindo que não entendi, porque se o google é que teria que dizer isso para mim, então é porque ele não estava pronto para dizê-lo. E finalmente a terceira vez que ele me disse veio pessoalmente, num momento de algo engraçado entre nós dois, estávamos rindo pela rua, felizes de nossa companhia e parece que escapou da boca dele, dessa vez em bom português: Eu te amo! Eu poderia ter aceitado aquelas palavras finalmente, eu queria ter aceitado e até hoje me pergunto se fiz certo de não ouvi-las, mas não o fiz. Ele disse baixinho e de forma muito rápida, talvez por timidez, talvez por não querer dizê-las realmente, então deixei o momento passar..Mas eu ouvi!
Comecei a escrever essa crônica sobre minha relação acabada, na tentativa de falar tudo o que não tive a oportunidade de falar para a única pessoa que eu queria que ouvisse. Estava me sentindo sufocada pelas palavras que ele bloqueou em meus lábios, por ele me querer muda tenho a vontade de gritar com toda minha força. Quando comecei a escrever minha intenção era extravasar toda a mágoa e a raiva que vêm dela e está me consumindo, não me deixando dormir, me fazendo ficar doente. Se eu pudesse, transformaria todas as letras desse texto em lâminas cortantes e atiraria sobre ele para que ele sentisse também como ardem essas pequenas feridas que deixou em mim. Imaginei uma crônica raivosa, tentei escrever sobre todas as suas falhas e defeitos e tudo o que eu não gostava nele para eu me sentir melhor e seguir em frente. Mas ao lembrar dos momentos que passamos juntos, fui enlevada pela ternura do seu sorriso, a delicadeza com que ele segurava minha mão e me fazia andar pelo lado interno da calçada, pela sua proteção, cuidado e carinho. Comecei a rir de soluçar ao lembrar do barulho da sua risadinha quando eu fazia cosquinha nele e da vez que eu cortei seu bife e das massagens que ele fazia sempre que eu pedia, lembrei do biquinho que ele faz ao me pedir um beijo sem pedir de fato, e de seu levantar de sobrancelha de amante latino (risos e mais risos..) E de seu olhar penetrante com aquelas sobrancelhas grossas escurecidos pelo desejo forte que ele sentia por mim e do som do seu sotaque que me fazia arrepiar ao me dizer: tranquila Marina. Das suas pernas que nunca paravam de balançar e que não me deixavam nada tranquila. Do cabelo dele todo em pé depois que tomava banho, do cheiro do seu pescoço..Aaah
"Saudade é emoção indivisível, razão incontestável para relembrar o gosto inesquecível daquela pessoa que mudou nossos passos, gestos e hoje, infelizmente nos considera gasto, empoeirado."Mas essa é a crônica do fim. E ele assinou embaixo na sua escolha de ser assim, então eu tive que aceitar. Em respeito à ele e muito mais em respeito ao meu amor próprio. Posso pôr fim a um relacionamento, mas as lembranças demoram um pouco mais para entender isso, tudo que posso fazer é deixar que o tempo faça o seu trabalho.
Fico me perguntando se ele sente algo ou se ainda lembra de mim ou sinta minha falta também. Embora eu saiba que essa pergunta nunca vá ser respondida, fantasio com ele aumentando seu teor de álcool em alguma festa para tentar apagar a falta que eu faço. Dele se revirando na cama a noite invadido pelas lembranças minhas deitada em seu peito e sinta falta disso. De ao flertar com outras meninas, perceba que eu não sou elas e me queira ali perto dele. Fantasio com ele lembrando dos momentos que eu escrevi aqui e sinta falta disso também. Mas são somente fantasias e eu vivo no mundo real no qual eu sou um problema a ser evitado.
De real o que me restou foi o chocolate semi amargo que ele me trouxe de sua cidade. E eu vou comendo o chocolate em pequenas raspinhas meio doce meio amargo. Porque sei que quando o último pedaço acabar, também será a última vez que eu sentirei o gosto do que é dele, em mim!