Alice era uma moça de fino trato.
De gestos delicados e fala doce, assim era Alice.
Suas frases sempre começavam com Por Favor e se complementavam com um Muito Obrigada.
"Por favor tia Dorinha, me passe o sal."
"Primo Olavo sempre me ajuda a descer as escadas, muito obrigada!"
Não tem quem dissesse que Alice não era moça pra casar, moldada às boas maneiras, prendada e de pensamento irrepreensível.
E Alice era mesmo, em todos os momentos, até fechar seus olhos.
Alice tinha um segredo. Cedo descobrira que ao cerrar suas pálpebras ela estaria livre para fazer tudo o que lhe aprouvesse.
No mundo de Alice, tia Dorinha era vítima de suas brincadeiras. As coxas gordas de tia Dorinha assando lentamente em alho e sal.
Tia Dorinha tendo os dedos costurados pelas cutículas a cada vez que tentasse repreender alguma atitude de Alice. Tia Dorinha com os olhos grudados com cola quente, cílio a cílio, para que pudesse entender o mundo de Alice.
Alice podia fazer o que quiser, com quem quiser, num piscar de seus olhos. Alice gostava de brincar também com primo Olavo, moço muito polido, discreto e de difícil interpretação.
De olhos abertos, primo Olavo era apenas o primo de infância, quase irmão. Já de olhos fechados..
Primo Olavo ajudando a descer as escadas, Alice o encosta contra a parede.
Primo Olavo cumprimentando com um suave beijo no rosto. Alice o pega entre suas mãozinhas, sempre delicadas, e leva seu rosto até seus seios.
Primo Olavo elogiando seu vestido, enquanto Alice arranca sua camisa muito bem engomada.
Alice abre os olhos, tia Dorinha sempre pergunta onde é que Alice estava que já fez a mesma pergunta três vezes e ela não respondeu.
Sempre muito delicada, Alice se desculpa singelamente dizendo que estava rezando uma Ave Maria.

2 comentários:

Se Alice crescer...

É por isso que não reprimo a Marilda. Alias, Marilda, adorei o texto. :]

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