Dia 07
CENA 1:9:30 -
Minha prova começa. 4 perguntas me encaram naquele pedaço de papel. Olho o relógio, penso que é melhor eu começar logo a escrever antes que não dê tempo de chegar lá. Encaro a 1° pergunta, busco minhas anotações, rôo as unhas, pego a caneta, começo. Escrevo duas páginas seguidas, paro, olho o relógio mais uma vez, tem que dar tempo.
Meu pensamento vaga pelo gate de um certo lugar. Paro. Me concentro no que tenho que fazer agora, a prova. Uma coisa de cada vez.
12:23 -
Saio da sala de prova. 15 páginas de respostas, finalmente fico livre dessa parte do dia. Olho o relógio, será que vai dar tempo? Estou a pelo menos umas duas horas distantes, isso sem contar com o trânsito provavel. Me arriscar ou não? E se não der tempo? E se for tarde de mais? Tarde de mais para chegar lá, tarde de mais para um gesto tão extremo e talvez inutil. E a coragem? Eu quero ser vista? O que eu quero exatamente com isso?
Nada! Eu me respondo. Não quero nada, e não espero nada. E não quero ser vista, acho, só quero ver..Talvez eu não devesse mesmo..Não tem razão lógica para isso.
FIM!
CENA 2:
13:00 -
Pego o 1° taxi que passa na minha frente. Eu PRECISO ver indo para ter certeza, talvez assim me sinta livre de novo. É como arrancar um band-aid rapidamente com 1 só puxão. Pronto! Ta feito! Dói só na hora.
Chego afinal. Procuro avidamente o gate certo, encontro, meu coração acelera, garganta seca. As borboletas que habitam meu estômago se agitam. As pessoas passam rapidamente ao meu lado, minha vista embaça. Preciso sentar se não vou cair. Me sento.
Respiro fundo.
Bebo um gole de água.
Minhas mãos não param de suar.
Ouço pelo auto falante:
- Partida com destino a..última chamada, portão..
15:33 -
Pulo da cadeira. Você já veio até aqui, então cumpra o que veio fazer. Finalmente faça algo! O que você não fez em meses. Corro, esbarro nas pessoas, desculpa, desculpem, ouço uma senhora falando com a amiga – Aposto que ela veio ver alguém, ela está sem mala, tomara que ela chegue a tempo! – Tomara, eu penso também.
Ali, na minha frente. Finalmente vejo o gate. A funcionária da empresa recolhendo os tickets dos passageiros, há uma pequena fila ali ainda mas com pouca gente. Será que ele já entrou? Sinto que vou ter uma parada cardiaca. Me escondo atrás da pilastra, espero enquanto meus olhos procuram ávidos..
Tem alguém no meio de um pequeno grupo, uma senhora o abraça. Maldita hora pra não se enxergar direito. Maldito problema de vista. Por que não trouxe meus óculos? A mulher sai do abraço, se afasta, a pessoa se vira num ângulo que fica de lado pro meu campo de visão. Meu coração para de bater de vez..
Eu o vejo!
Ele acena para um pequeno grupo, está a ponto de entregar seu ticket para a funcionária, então ele se vira totalmente de frente para a direção da pilastra onde eu estou..
CENA 3:
Por 3 segundos tento analisar minha decisão, o que fazer? Então como que impelida por uma força atrás de mim que não sei o que é, eu saio de trás da pilastra e fico totalmente de frente pra ele, uns 7 metros de onde ele está. Então ele me vê, já quase no momento que estava voltando a se virar para a funcionária, ele para. Se volta novamente pra mim.
Eu paro também. Nenhuma parte do meu corpo se mexe, enquanto ele também não se mexe..Espero segundos que parecem anos..
Daí ele abre um sorriso. Lento a principio, que vai se alargando pros cantos de sua boca, linda boca, aos poucos. E anda em minha direção, enquanto eu ainda sinto meus pés grudados no chão, não consigo movê-los.
E ele me abraça.
E me olha nos olhos e pergunta por trás de seu sorriso, o que eu estou fazendo ali.
- Eu não sei. Eu só sei que precisava vir!
- Você quase não chega a tempo.
- Mas o que somos nós dois do que pessoas que estão sempre no quase não é mesmo? Eu digo isso enquanto rio, um riso nervoso e calmo ao mesmo tempo. Seus braços ainda estão ao meu redor e isso, mesmo que seja por apenas aqueles poucos segundos, me acalma..
Então eu digo por fim:
-Não se case! Não arrange alguém lá!
Não vá! Volte logo!
Demore o tempo que for necessário pra você!
A funcionária o chama, só falta ele. Então me aperta mais forte entre seus braços, me olha fundo, me dá um leve beijo e só balança a cabeça numa suposta afirmação que sabemos, ambos, o que não podemos nos dizer..Porque é um quase mas ainda está ali. E então finalmente eu descubro o que fui fazer, era exatamente isso.. Saber se o AINDA estava ali!
15:47 -
FIM!
CENA 4:
(…) então ele se vira totalmente de frente para a direção da pilastra onde eu estou. Vejo seus olhos fixos exatamente na direção da pilastra a qual eu estou escondida. Consigo vê-lo bem dalí. Um filme passa na minha cabeça naquele breve momento. Vejo todo esse tempo, tudo o que eu não fiz, o que eu fiz, o que ele fez, o que ele não fez. Meu corpo anseia por sair detrás daquela pilastra e correr à seu encontro e abraçá-lo, mas minha mente não permite. Então lembro da última coisa que eu escrevi pra ele:
Não se case! Não arrange alguém lá!
Não vá! Volte logo!
Demore o tempo que for necessário pra você!
Então eu compreendo por fim. Compreendo que de nada adiantaria, não naquele momento. Teria que ter sido feito, dito e tentado antes. E me lembro da nossa última conversa e de tudo que finalmente falamos um pro outro. E aquele foi o momento da despedida..E aquele foi o segundo que antecedia nosso beijo. E que não seria esse agora. E lembrei dos motivos que o estavam fazendo ir, e dos meus, de não ter tentado. E que então eu precisava cumprir com o que eu disse a ele, de que demorasse o tempo que fosse necessário. Por fim eu conseguiria fazê-lo partir de dentro de mim. E se eu vivesse pelo AINDA, não seria feliz..
15:47 -
FIM!
Vocês escolhem o final que mais lhe agradam..O que foi, fica guardado e subentendido dentro de mim!
3 comentários:
Primeiro vou responder aos seus comentários, depois comento essa postagem :)
Então, você acha isso mesmo? haha, engraçado, nisso divergimos. A paixão eu acho que ainda é, por assim dizer, justificavelmente egoísta por seu caráter essencialmente impulsivo. O amor não, acho que é uma coisa mais abrasiva e constante, e ainda assim nós amamos inicialmente por motivos infindáveis e complexos, mas continuamos alimentando esse sentimento por causa do que ele provoca em nós, pelo que nos faz sentir, pelo que faz da nossa vida e do nosso ser.
Mas isso é mera opinião minha, haha.
Obrigada pelo link, Artur da Távola é um gênio, não? ;)
Concordo com ele em vários aspectos!
Quanto aos olhos: Eu penso que nem sempre funciona assim. Principalmente porque até os olhos precisam ser lidos. Então depende do quão afetada/envolvida está a pessoa que os contempla, por isso, eu particularmente posso dizer que já vi alguns olhos mentirem pra mim. Sem a intenção, mas aos meus, foram mentiras.
Não só ruins, mas foram!
Ahh, e é que eu esqueci de colocar o negócio dos seguidores quando mudei o template do blog, haha. Obrigada por me lembrar ;) Já coloquei ali do ladinho de novo, embaixo do arquivo!
Agora sobre a sua postagem:
Que lindo relato, Mari!
Noooooooossa, nooossa, nossa!
Adorei, de verdade.
"E então finalmente eu descubro o que fui fazer, era exatamente isso.. Saber se o AINDA estava ali!"
Genial!
Eu espero que tenha tido o final merecido, aliás, um gran finale :)
"Então eu compreendo por fim. Compreendo que de nada adiantaria, não naquele momento. Teria que ter sido feito, dito e tentado antes." Eu acho que o final foi a Cena 4. Parpite.
hsaihsia
Adorei o texto, bem bonito, mesmo pra alguém que não curte muito romance e/ou despedidas... Ficou muito bom.
Quanto a me seguir, não há nenhuma forma de me seguir (?) Eu mudei o template do meu blog e ele não tem ''followers'', mas você pode passar lá sempre ora, por que eu estarei sempre por aqui em seus comentários.
Quanto ao meu blog e as férias da minha mente, ainda bem que alguém me entende, ufa! E sim, eu tentei encher linguiça com uma linda musica dos beatles, *-*
Beijo Mari...
E que bom que gostou da aparencia do meu blog, depois eu vou pegar um link de um site que tem todo tipo de template que você imaginar, deve ter algum que lhe cabe como uma luva.
Tchau, e feliz ano novo.
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