Não sei se isso acontece com a maioria das pessoas, mas pra mim os dias mais tocantes em minha vida, àqueles mais intensos, ficam gravados em minha mente como um filme fora de foco, as imagens são borrões, e minha memória se dá em pequenas partes, fora de contexto e desconectadas..
Eu lembro dele me contando que ia embora no inicio de janeiro e eu sentindo um gosto amargo na boca. Lembro dele falando como eu estava bonita e que ele gostava de mim, e eu respondendo: Não subestime minha inteligência, porque pra mim aquilo não podia ser verdade e, ironia das ironias, porque justo agora fui começar a acreditar nisso?
Eu lembro que chovia muito quando eu o vi, parecia um dia típico daqueles dramalhões mexicanos. A moça se despedindo do mocinho que ia lutar na guerra pelo seus ideais, e ela ficava ali, vendo ele partir e ansiando que voltasse logo e com vida. Sentamos num barzinho, pedimos um chopp e de repente as palavras sumiram todas da minha mente, e eu ficava falando pra mim mesma : "Say something, anime ele, faça esse dia feliz. DIZ QUALQUER COISA RÁPIDO!"
- Você vai embora!
Qualquer coisa não deprimente, Marina! E minhas pernas não paravam de balançar, como se tivessem vida própria e minhas mãos, testa, pescoço, suavam muito. Calma, o álcool já vai fazer efeito e você vai se acalmar.
Ele fez efeito e acalmei o máximo que a situação me permitia. Daí o papo fluiu para assuntos mais amenos, faculdade, espectativas, trabalho. Ele começou a falar sobre o dele e eu ali, olhando ele falar..De vez em quando abria um sorriso, ao descrever o que fazia, e do quanto ele gostava, e se virava pra mim e perguntava se esse assunto não me entediava e eu respondia que não, dai ele continuava e tudo que eu pensava era: Como ele é bonito. Porque eu tentei tanto me esconder, e não me permiti vê-lo de fato antes, enquanto ainda havia tempo, porque eu me auto-saboto?
Enquanto escrevo isso, e tento puxar da minha memória o máximo de lembranças possiveis, minhas mãos começam a suar novamente. Calma, me concentro..
Fomos pra casa dele, resolvemos fazer aquela brincadeira onde um pergunta e o outro tem que responder a verdade:
- Você acha que me conhece? Ele me pergunta
- Não. Só o que você me mostra, e hoje estou surpreendida.
Minha vez de perguntar:
- E você, acha que me conhece?
- Sim!
Devo ser mesmo muito óbvia, penso, daí em dois minutos apenas, ele começa a falar de mim, e vai no ponto, acerta em cheio, vou abraça-lo, derrubo um copo, eu sempre estrago. (eu sempre tendo mesmo a acha que a culpa é sempre minha e dessa vez, foi mesmo!)
Depois disso, não consigo me lembrar de quase nada, minha memória não combina com Absolut.
"Você surtou ontem!"
Meu pensamento vaga para a janela, decido me jogar dali, rápido e preciso. (dramalhão mexicano de novo.)
Não me jogo. Digo que não lembro, o que é verdade, enquanto penso que meu apartamento é mais alto, de lá a queda seria mais letal. ahahha, ta ta ta, imaginei essa cena como sendo de um desses filmes realmente ruins, gente, eu tenho que ser cineasta, Wollyood não sabe o talento que está disperdiçando! rs..
O que será que eu falei? Qual foi meu surto? Acho que as vezes é bom mesmo não lembrar, só gostaria que o mesmo acontecesse com ele, e se apagasse o que foi ruim e só ficassem lembranças boas.
Fomos nos aproximando do ponto onde iriamos nos deixar, 20 passos, 10 passos, 2 passos.. Então ele me abraçou, meus braços viraram de pedra e eu por mais que fizesse força, não conseguia tirá-los daquele abraço. Acho que só disse um : "Vai dar tudo certo pra você!" Não sei me despedir, e não queria realmente. Dai me virei, e fui embora, não me permiti nem um olhar pra trás, com medo que se eu fizesse isso, virasse uma estatua de sal.
Não chegamos sequer a termos um contato mais sério, eu sei, ocasionais e esporádicos era tudo que eu me permitia. Reclamo tanto que não encontro alguém, isso me serviu de lição pra perceber que esse não é o fato, e sim que estou tão cega e amedrontada que quase não percebo o óbvio. Eu não me permito. A maior culpada sou eu.
O que ficou dessa quase-alguma-coisa, foram os If e Maybe. E isso, mesmo que não pareça, é muito mais angustiante e dolorido!
E como acaba? Não acaba, porque sequer começou..Fica subentendido... Me lembrou uma música agora:
"Deixo assim ficar
Subentendido
Como uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor pretensão de acontecer.."



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